SACADAS GOURMET E SUVs: quando o marketing é utilizado para “enganar” todo mundo.


 

Iniciando o texto com uma obviedade ululante, o marketing é fundamental no mundo capitalista em que vivemos. Bem utilizado, faz a diferença entre sua empresa e a concorrência e sim, determina o sucesso de uma empresa frente às demais. São diversas as ferramentas à disposição do marketing, dos estudos de precificação às promoções, da publicidade às estratégias de relacionamento e pós-venda.

Mas em alguns casos essas ferramentas - e as táticas de marketing – são tão sutis que a grande, imensa maioria do público nem percebe que foram ou estão sendo utilizadas, e os objetivos às vezes são, sim, “dourar a pílula” de modo a fazer com que o consumidor acredite estar fazendo um ótimo negócio adquirindo tal produto ou serviço – e nem sempre é bem assim...

Isso é particularmente verdade quando falamos de sacadas gourmet em apartamentos e os veículos SUVs em suas garagens: sinto dizer, mas nessas duas vezes o marketing o convenceu a pagar muito mais por muito menos. Explico.

Você, como grande parte das pessoas, deve achar que as sacadas gourmet viraram moda e o motivo disso foi a grande procura por elas, certo? Não foi bem assim, na verdade foi ao contrário: a procura passou a ser grande por causa das montanhas de dinheiro investidas em marketing para vender a ideia de que sacada gourmet é legal, é bacana, é um estilo moderno de viver. Pode até ser, mas...

Dou um exemplo: conheço um apartamento (vamos chamá-lo de Apartamento-1) de 180 metros quadrados, ótimo lugar, e ele tem sacadas “normais”, como antigamente. Do total do imóvel, acredito que se medisse as sacadas daria algo em torno de 15 metros quadrados.

Já o Apartamento-2 tem 184 metros quadrados, 4 m a mais que o 1, mas a sacada gourmet sozinha “consome” 44 metros quadrados.

Resultado: no Apartamento-1, com sacada muito menor, os quartos são maiores, a suíte de casal bem maior com banheiro excelente, com duas pias, banheira de hidromassagem e box de banho enorme; uma boa cozinha com sala de almoço anexa, lavanderia espaçosa.

Já no Apartamento-2, maior mas com sacada gigantesca, os quartos são pequenos, a suíte de casal comporta somente cama e pequenos criados-mudos bem justo nas paredes, os banheiros são semelhantes a banheiros de avião, a cozinha é um corredorzinho apertado, na lavanderia cabe uma pessoa por vez.

A mim não parece razoável ter uma sacada enorme e viver apertado nos demais cômodos, por mais que digam que quarto é só para dormir e banheiro é só pra tomar banho (e mais algumas coisas também).

A sacada gourmet foi, com o perdão do trocadilho, uma sacada das construtoras para obter lucro maior em seus projetos. Isso ocorre porque as construtoras pagam impostos às prefeituras “por área construída” e sacadas, pela Legislação atual, não são consideradas área construída.

Assim, usando o exemplo do Apartamento-2, a construtora pagou de impostos e taxas o equivalente a um imóvel de 140 metros quadrados (sacada de 44 m excluída da conta). Mas no momento da venda, cobra por 184 metros quadrados, adicionando a sacada ao preço do imóvel. Ou seja, não paga impostos pela sacada, mas cobra por ela. Que sacada, hein?!

Com os nossos tão admirados SUVs (não me incluo nessa, gosto de hatches) a jogada é a mesma.

Lembro de uma entrevista de um diretor da Ford à época do lançamento do Ecosport em que ele deixou escapar que o famoso lançamento era “puro marketing”, pois era um Fiesta com nova roupagem e um preço muito mais alto. Segundo ele, a Ford nunca havia lucrado tanto com um modelo.

Claro que toda a indústria automobilística correu para essa mina de ouro, todos queriam lucrar mais por unidade. Deu-se então início ao marketing dos SUVs, martelando tanto as qualidades desse tipo de veículo que a maioria das pessoas passou mesmo a acreditar que um SUV é melhor que um sedã ou hatch. No mínimo, acham que o SUV é mais alto e por isso dá mais sensação de segurança. Oras, mas se todos andam de SUV, daqui a pouco você vai ter de comprar um caminhão ou ônibus para ficar mais alto que os demais!...

O exemplo mais flagrante da roubada que é um SUV é o descarado Corolla Cross, da Toyota.

Vamos por partes: começa pelos para-choques em plástico preto, sem pintura na cor do veículo como praticamente todos os SUVs. A fábrica já começa a economizar por aí, mas tem mais:

- o famigerado escapamento-marmita pendurado na traseira e o quebra-galho pindaíba da pintura preto-fosco até a metade para tentar esconder a deficiência de projeto;

- o freio de mão que é de pé (?!?...rs...) inspirado no Ford Galaxie 67 ou talvez na picape Chevrolet D20 da década de 80…;

- a suspensão traseira por eixo de torção (como nas carroças do velho-oeste). No sedã a suspensão é multilink, moderna e mais segura;

- o porta-malas MENOR que o do sedã (430 litros contra 470 litros).

Com tudo isso, era de se esperar que o Cross custasse menos que o sedã, mas não!

As pessoas deixam de comprar um excelente sedã para comprar um SUV tecnologicamente defasado, mais pesado, que consome mais, com um porta-malas menor e, felizes, pagam mais por isso!
 
É difícil, em imóveis novos atualmente, escapar das lucrativas sacadas gourmet e pode ser que em breve seja difícil escapar de um SUV.

Não é louco isso?! Não, meus amigos, isso é o marketing bem-feito. Pode até ser eticamente questionável, mas bem-feito, ele faz você pagar mais para receber menos e ainda ficar feliz por isso.

E você, o que acha? Não concorda? Tem uma visão ou explicação diferente? Manda, vamos trocar ideias!

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