GEOMETRIA SAGRADA NA PUBLICIDADE




Lembram de um OphicinaNews em que tratei sobre o significado das cores na psique humana e como as empresas e  a Publicidade as utilizam com maestria para transmitir determinadas ideias, impressões ao subconsciente dos consumidores? (aqui: http://ophicinadecomunicacao.blogspot.com.br/2013/06/marketing-e-fantastica-ciencia-das-cores.html)

Bem, se você gostou daquele post e da trilogia de Dan Brown (O Código da Vinci, Anjos e Demônios, O Símbolo Perdido), em que o Dr. Robert Langdon analisa símbolos e significados para desvendar mistérios, possivelmente irá gostar deste artigo.

Assim como as cores podem ser analisadas sob o ponto de vista da psicologia – e assim serem melhor empregadas nas peças publicitárias – as formas também tem lá os seus segredos e simbologias. E não se engane: elas são minuciosamente estudadas. Grandes marcas tem seus logotipos, anúncios e outras peças desenhadas milimetricamente seguindo esse conhecimento. Publicitários não são alquimistas mas tem lá seus truques...

Existem diversos estudos sobre como as formas geométricas básicas representam conteúdos arquetípicos e padrões (modelos, ritmos e proporções) que integram o repertório que permite tanto a Natureza como o psiquismo humano se expressar. Com o auxílio das técnicas da semiótica visual, círculos, quadrados e triângulos são largamente utilizados para criar uma verdadeira geometria subliminar (se é que a subliminaridade existe e funciona. Há controvérsias, mas eu não colocaria a mão no fogo...).

Na atualidade, a inteligência visual publicitária alcança o que talvez seja a sua estratégia mais sofisticada: a aplicação de arquétipos da “geometria sagrada” – um surpreendente encontro entre a semiótica e a psicanálise, que envolve as tais três formas geométricas básicas.

O círculo: simboliza a ausência de distinção ou de divisão – a totalidade indivisa. O movimento circular é perfeito, imutável, sem começo e sem fim o que o habilita a simbolizar o tempo. Por isso, o círculo simboliza o próprio céu, o mundo espiritual invisível e transcendente.

É a imagem símbolo de uma realidade psíquica interior do homem: aconchego e proteção (a forma circular do seio materno, primeira forma geométrica que percebemos nesse mundo) e erotismo e sensualidade (linhas onduladas), compulsão, apelo emocional, prazer. Como forma natural, sua cor é o azul por representar o céu.

O quadrado: figura antidinâmica, ancorada sobre os quatro lados, implica numa ideia de estagnação, solidificação e até mesmo de estabilização na perfeição.

No psiquismo humano simboliza os valores referentes ao superego: honestidade, retidão, esmero, conservadorismo, a tradição – não é à toa que chamamos uma pessoa moralmente conservadora de “quadrada”. Como uma forma não natural, mas criada pelo homem, sua cor é o vermelho, símbolo da matéria, da realidade que se materializa na estabilidade do quadrado.

O triângulo: Os simbolismos dessa figura geométrica estão associados à racionalidade, masculinidade, fogo e fecundidade. O papel do esquadro na arte da construção – os triângulos e os retângulos têm uma função muito importante. Para os maias o triângulo está ligado ao raio do sol, e semelhante ao broto que forma o germe do milho. Sol e milho, duplo simbolismo de fecundidade.

Com a ponta para cima é o símbolo masculino e do fogo na alquimia. É conhecida a importância atribuída pela maçonaria ao triângulo, chamado de “delta luminoso” ou o triângulo sublime cujas medidas perfeitas (ângulo superior de 36° e base com dois ângulos de 72°) representariam o tríptico da moralidade: pensar bem, dizer bem, fazer bemsabedoria, força e beleza. Por isso, sua cor seria o amarelo: luz, razão e sabedoria. Tradicionalmente Deus é representado simbolicamente como um olho dentro de um triângulo amarelo.

No psiquismo humano, corresponderia aos valores do Ego e da individualidade: de um lado racionalidade e autopreservação; do outro, tensão, conflito, ação.

Partindo do princípio de que o apelo publicitário baseia-se em três domínios – o racional, o emocional e a tradição – podemos aproximar a simbologia das formas geométricas com os apelos publicitários da seguinte maneira sintetizada na tabela abaixo:

Círculo
Triângulo
Quadrado
Id
Ego
Superego
inconsciente
Identidade
Norma, Lei, Tradição
Compulsão, impulsividade, erotismo, apelo emocional, prazer
Apelo racional, consumo consciente, tensão agressividade
Apelo ao clássico, tradição, história

Dominante círculo
É marcante como as peças visuais publicitárias de produtos tão díspares como cervejas e refrigerantes até produtos infantis exploram as formas circulares e movimentos ondulados como dominantes visuais. “Se a vida mandar quadrado, você devolve redondo” ou “desce redondo” da cerveja Skol; design de marcas de refrigerantes arredondadas, linhas onduladas e muitas formas redondas como bolhas, círculos em anúncios de produtos infantis; gotículas do suor da garrafa do refrigerante de onde desce o líquido em ondas.

Em fast foods marcados pelo apelo à viciosidade e compulsão, temos o exemplo do “Ruffles, a batata da onda” em que os chips são confeccionados com ondinhas ou o último filme publicitário do produto onde uma batata faz strip-tease dentro de uma máquina de vendas automáticas: prazer da viciosidade e erotismo.

A grande maioria dos anúncios que apelam para os aspectos emocionais (amor, amizade, etc.) ou de prazer (sexo, erotismo, viciosidade, compulsividade) apresenta como padrão a dominante círculo, muitas vezes combinada com a dominante da cor.

A exploração da forma geométrica círculo está na captação da sua energia que busca a transcendência espiritual, confinando-a à imanência da forma-mercadoria.

Dominante quadrado
A dominante dessa forma seja como embalagem do produto, layout do anúncio, diagramação ou composição visual possui forte apelo aos valores do superego ao transmitir solidez, conservadorismo, história e, por isso, confiança.

Se no plano arquetípico o quadrado é a aspiração humana para a cristalização, a imutabilidade como forma de estancar a maior falha cósmica que é a seta do tempo (ou em física a entropia), a comunicação visual publicitária instrumentaliza essa aspiração do inconsciente coletivo para confiná-la na forma-mercadoria transitória, descartável: a dominante quadrado oferece um oásis de segurança na sociedade de consumo marcada pelo efêmero.

Dominante triângulo
Embora direcionado ao ego, talvez seja a dominante de forma com o simbolismo mais variado: desde o apelo racional (vantagens racionais e lógicas de escolha por determinado produto), o apelo ao egoísmo, à posse (status, prestígio etc.) até o apelo à velocidade, conflito, desequilíbrio.

O domínio de linhas em diagonal (movimento derivado do triângulo) em anúncios de automóveis transmitindo conflito, dinamismo e velocidade – valores moralmente “bons” associados aos carros: velocidade = status. O triângulo associado a uma escolha racional do consumidor a partir de informações técnicas como no anúncio da Gafisa.

O triângulo também está presente na construção da maioria dos logotipos das grandes corporações como um simbolismo ao mesmo tempo fálico e divino de força e poder.

Mais uma vez, o simbolismo arquetípico de uma forma geométrica é instrumentalizado para a manipulação: a suposta afirmação da individualidade do consumidor, por meio do simbolismo do status ou do suposto apelo à decisão racional no momento da compra, resulta em ideologia por encobrir a realidade de que as opções de escolhas são dadas e limitadas em um mercado cartelizado e monopolizado.

Em síntese, na atualidade conceitos da geometria são intensamente manipulados através da semiótica da comunicação visual publicitária aplicando um dos seus princípios fundamentais: tudo tem um padrão, e esse padrão é a chave para se criar efeitos específicos.

No caso da Publicidade, tudo visa à passagem de uma certa “mensagem” que, em última instância, leve ao consumo.

Algo bem pouco esotérico, alquímico ou psíquico, não é mesmo?!



Originalmente em

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