O ESTRANHO CASO DO SITE SUPER-VISITADO
Não
muito tempo atrás um pequeno empresário me procurou com o Problema Básico 1:
precisava alavancar vendas.
O
Problema Básico 1 veio, como de costume, acompanhado do Problema Básico 2:
não dispunha de verba para anunciar.
Nessa
nossa primeira conversa ao telefone enquanto eu tentava, pensando comigo mesmo,
entender o motivo dele ter ligado para mim (afinal de contas, como eu poderia
ajudá-lo?...), fui fazendo as perguntas básicas. Ele queria anunciar de alguma
maneira, qualquer uma de baixíssimo custo (ou sem nenhum), de modo a aumentar
suas vendas. Já havia feito e distribuído folhetos, mas não funcionaram. Já
havia utilizado o Google AdWords, sem bons resultados. Já tentara anúncio em
jornal e foi dinheiro jogado fora... As opções estavam terminando.
Fiquei
intrigado quando ele me disse que já tinha web site e que recebia uma média de 9.000
(isso mesmo, nove mil) visitas POR DIA!
UAU!
– pensei, com uma enorme exclamação, mas não tão grande quanto a que veio após
a próxima resposta: ele não gastava nem um só centavo em divulgação há meses!
Nesse
ponto, não importava mais se tinha verba ou não: queria trabalhar para ele nem
que fosse apenas para aprender a mágica. Eu fiquei, por alguns longuíssimos
segundos, sem saber o que dizer a ele. Nunca havia visto ou lido sobre nada
parecido. Numa conta rápida, 9.000 visitas/dia são 270.000 pessoas/mês
visitando o site. E nem assim as vendas estavam num patamar aceitável?...
Segundo
as informações que me passara, a contratação de seus serviços estava beirando o
zero. A conclusão mais óbvia, tendo em vista o volume de visitas ao seu web
site, era de que o problema dele simplesmente não estava na falta ou pouca
divulgação. Como no ditado, o buraco era mais embaixo (que expressão horrível,
não?!).
Resolvi
então alongar a conversa e pedi a ele que me passasse diversas informações de
modo que eu pudesse estudar o caso. Sem elas, nem conseguia imaginar o que
fazer por ele. Por intuição ou costume, pedi o endereço de seu web site. Após
desligar, lá fui, curiosíssimo.
O
site tinha um “contador de visitação” que, no meio da tarde daquele dia,
indicava mais de 8 mil visitas, mas eu precisava de informação “isenta” e
liguei para ele pedindo o login e senha de onde o site estava hospedado. Meio
contrariado com minha desconfiança, ao invés disso me passou dados de acesso às
estatísticas do site no Google Analytics. Melhor ainda!
Numa
primeira batida de olhos nos números principais, lendo os gráficos do
Analytics, vi que lá estavam os tais 8 ou 9 mil, mas logo um detalhe me chamou
a atenção: não eram por dia mas sim por mês. Hmmm, a coisa já mudava de
figura mas, mesmo assim, era uma ótima taxa de visitação para quem não
anunciava.
Resolvi
então virar o Analytics do avesso e, alguns minutos depois lá estava a resposta
à charada: o sistema não estava só contando apenas a visitação às páginas do
site mas somava também a “impressão” de cada arquivo de imagem como sendo
uma visita!
Um
site nada mais é que um conjunto de arquivos eletrônicos, sejam eles textos ou
imagens. Cada vez que se acessa um site esses arquivos são trazidos ao
seu monitor. A isso se dá o nome de “impressão” (no monitor do internauta,
subentendido).
Grosso
modo, o webmaster que havia construído o site para ele e também configurado o
Analytics usou de um truquezinho sacana, talvez para mostrar como seu site
havia sido bem construído e por isso recebia muitas visitas.
Cada
vez que uma imagem de seu site (e tinha centenas) era mostrada num monitor uma
visita era contabilizada.
Oras!
Uma só pessoa olhando apenas uma de suas páginas uma única vez
já gerava algumas dezenas de “visitas” para o Analytics.
Escarafunchando
ainda mais, consegui obter os dados de visitação reais, por páginas: nos
últimos 2 meses a home de seu web site havia recebido apenas 186
visitas (muitas, acredito, dele mesmo pois não havia endereço IP excluído –
explico numa próxima)... Apenas 4 resolveram ir à página “quem somos” e só 2
seguiram até a página “contato”.
E
agora? Como contar isso a ele? E se o webmaster dele tiver sido um parente ou
amigo?
Preparei
um relatório de minhas investigações com texto escrito de modo mais diplomático
e técnico que pude, tomando o cuidado de fazer print screens das
telas do Analytics, colá-las no relatório como “prova” e também links para ele
poder ir diretamente às páginas de onde tirei as informações.
Enviei
o relatório por e-mail junto de uma proposta de serviços, pois agora o problema
dele não mais envolvia magia, algo sobrenatural ou de outra dimensão, mas
simplesmente de ajustes na construção do web site para que pudesse contabilizar
a visitação real e, possivelmente, o início de uma campanha de divulgação de
seus serviços, coisas que eu poderia fazer para ajudá-lo.
Dois
dias depois ligou dizendo que eu estava equivocado, que “não era nada disso”,
que uma outra pessoa já estava preparando uma campanha de divulgação para ele e
se eu poderia apenas registrar seu web site em todos os mecanismos de busca e
sites de anúncios grátis, perguntando, ainda, o que mais eu poderia fazer por
ele.
Tentei
contra-argumentar dizendo que as informações eram verídicas, ele mesmo poderia
entrar no Analytics e lê-las, que minha proposta de serviços se baseava no que
eu havia encontrado de problemas... Ele não acreditava em mim ou não entendia o
que eu tentava explicar
Resumindo:
perdi o cliente. Melhor assim.
Ah, e
aprendi a mágica, que na verdade era um truque barato pra enganar cliente.
Cuidado com quem você contrata por aí...
Abraço,
Luís Henrique
Comentários
Postar um comentário